03 setembro 2011

Fathers Day - Dia Dos Pais




                     Eu havia chegado às sete horas da noite anterior. Estava exausto devido ao ritmo acelerado das gravações e o vôo - longo demais - me deixou ainda mais indisposto.
Fazia duas semanas que eu não via as minhas pequenas, e, embora a distância fosse necessária, era torturante.
Kristen e eu havíamos combinado que, enquanto um estivesse trabalhando o outro ficaria em casa, isso facilitaria as nossas viagens até os sets de filmagens, e nunca deixaríamos Hollie sem ambos os pais.
O meu objetivo era chegar em casa, tomar um banho e curtir um pouco a minha filha e a minha mulher, mas Hollie não estava em casa quando cheguei.
Ela tinha ido passar a tarde com Victoria, Greg e Eve, pois eles não estariam conosco no almoço do dia seguinte, portanto eu apenas matei a saudade da minha esposa e logo me aconcheguei em meio as colchas macias acompanhado do corpo que tanto me fazia falta.
Eu cheguei a perceber o momento em que Kristen se livrou dos meus braços e saiu da cama para atender a porta, mas o cansaço era tanto que eu não me permiti despertar para receber a minha princesinha.
No dia seguinte eu fui acordado por uma garotinha lourinha, com corpo rechonchudo e lábios em formato de coração. Lábios estes que me atacaram com beijos, enquanto os braços gordinhos apertavam o meu pescoço com força.
- Feliz dia dos pais, papai. – dissera Hollie enterrando o rostinho no vão do meu pescoço.
- Obrigado, princesa. – virei a minha cabeça e beijei a sua bochecha.
- A mamãe preparou um café da manhã especial. – sussurrou no meu ouvido.
- Ah, é?
- Aham. E eu passei geléia na torrada do senhor. - Hollie parecia orgulhosa de si mesma. – Mas a faca não tinha serrinha não. – acentuou ela.
- Não? – ela negou.
- E sabe mais o que tem no café da manhã?
- O quê? – perguntei curioso.
- M&M’s. – tornou a sussurrar.
- Mas nós não podemos comer M&M’s no café da manhã.
- Eu sei, papai. Mas hoje a mamãe deixou. – ela me encarou com seus olhos azuis, idênticos aos meus. Eles pareciam felizes e brilhantes.
Hollie era fascinada por M&M’s, assim como eu, e, se Kristen deixasse, ela comeria os pequenos confetes vinte e quatro horas por dia. E eu digo “se a Kristen deixasse” porque se a Kristen deixasse, eu também os comeria durante o dia inteiro.
- Ah! – exclamou Hollie dando um pulo na cama e saindo em disparada do quarto.
Eu me senti confuso por um instante, mas enquanto eu me sentava encostando as costas na cabeceira da cama, ela retornou ao quarto, desta vez carregando algo nas mãos.
- É para o senhor. – disse me estendendo um envelope.
Eu o peguei já sabendo o que estaria ali dentro.
Este era o terceiro ano que Hollie pintava gravatas para mim no dia dos pais, mas ela sempre me entregava dentro de um envelope. Fora a mãe dela quem começara com isso, e agora Hollie dizia que o envelope era para não estragar a surpresa.
A surpresa era a cor da gravata, e a deste ano era azul, e dentro dela havia a frase “Feliz dia dos pais” escrita pela própria Hollie em sua letra infantil, seguido de um desenho meu, também feito por ela.
Eu sempre estava muito bem barbeado nos desenhos dela, e ultimamente essa era a minha realidade também. Hollie não gostava de beijar a minha bochecha pinicante.
Eu sorri abertamente para o desenho, colocando-o sobre a mesinha de cabeceira em seguida. Eu precisava das minhas mãos livres para pegar o corpinho coberto por um pijama amarelo e enchê-lo de beijos estalados, seguidos por cóceguinhas na barriga.
Foi assim que Kristen nos encontrou. Ambos gargalhando enquanto Hollie tentava se livrar das minhas mãos.
Kristen colocou a bandeja que carregava em cima de uma poltrona e logo em seguida se juntou a nossa brincadeira.
Eu sentia muita falta de ficar assim com elas. Apenas rolando pela cama enquanto gargalhávamos. Era ainda mais divertido quando Bear se juntava a nós, mas a idade parecia estar batendo no cachorro, e ele pouco se dispunha a brincar.
A brincadeira de cócegas só foi interrompida quando os meus lábios encontraram os de Kristen. Agora nós estávamos craques em nos beijar mesmo quando Hollie estava entre os nossos corpos.
- Feliz dia dos pais! – sussurrou ainda em meus lábios.
- Obrigado. – tornei a beijá-la
Hollie começou a nos empurrar e Kristen sorriu me dando um último selinho e se afastando.
- Nós já podemos comer os M&M’s? – questionou impaciente.
- Que tal tomar o seu café da manhã primeiro?
- Ela ainda não tomou café? – perguntei olhando Kristen se movimentar pelo quarto.
- Não. Ela quis esperar pelo papai. – sorriu colocando a bandeja sobre as minhas pernas.
Algo me dizia que Hollie estava esperando pelos M&M’s e não por mim, mas eu preferi acreditar na história da Kristen.
Hollie tomou o leite sem reclamar e eu até consegui fazer com que ela comesse algumas das minhas torradas, e, como ela sempre fazia durante os nossos cafés da manhã, assim que o meu chá ficou frio o suficiente para não queimar os seus lábios, e língua, ela me roubou um pequeno gole.
- Mamãe?
- Hum?
- A gente já pode pegar o presente? – Hollie sussurrava com o objetivo de me impedir de ouvir.
- Você quer ir pegar?
- Sim, mas eu não aguento.
- Certo. Vamos lá. - Kristen se levantou da cama e pegou a Hollie no colo.
- Aonde vocês vão? – perguntei inocentemente.
- Voltamos em um segundo. – Kristen me lançou uma piscadela e um sorriso antes de sumir pela porta do quarto.
Não consegui segurar o sorriso enquanto colocava a bandeja de lado e me ajeitava na cama. Quando as duas voltaram – seguidas de um Bear preguiçoso – eu ainda sorria, e o meu sorriso ficou ainda maior quando vi o que Hollie carregava com a ajuda da mãe.
- Isso é para mim? – perguntei.
Ambas apenas assentiram enquanto caminhavam até a cama segurando um belíssimo violão.
- É muito bonito... Obrigado. – elas já estavam sentadas na cama quando lhes dei um beijo.
- Tem o nosso nome nele, papai.
- Hein?
- Ela quer dizer que os nossos nomes estão gravados no violão. – explicou Kristen com um sorriso.
- Oh, isso é... Hum...
Eu virei o violão sem saber o que dizer, e então encontrei os nossos nomes nele. Se antes eu já não sabia o que dizer, agora que eu não seria capaz de pronunciar palavras mesmo.
Kristen e Hollie.
Estes eram os nomes das pessoas mais importantes da minha vida. Pessoas estas que me faziam feliz a casa dia que se passava; que me abraçavam forte depois de ter ficado muito tempo longe; que me impediam de ler, ou assistir um filme, porque me cobriam de beijos; que me arrastavam para o quarto para brincar de boneca.
Elas eram as minhas pequenas.
-
Estava tudo incrível para uma manhã de dia dos pais, mas logo tivemos que sair da cama, pois não podíamos nos atrasar para o almoço na casa da minha mãe.
Kristen tirou o pote de M&M’s das minhas mãos fazendo Hollie soltar um muxoxo. Estava na hora de levantar e se arrumar para sair.
Hollie foi para o colo da mãe ainda resmungando, e um biquinho ainda habitava os seus pequenos lábios quando ela e Kristen saíram do quarto.
Eu peguei a bandeja, agora vazia, e levei-a até a cozinha. Quando retornei ao quarto dei de cara com o violão que permanecia sobre a poltrona.
Ele era realmente muito bonito, algumas pessoas diriam que este era o meu melhor presente de dia dos pais desde que Hollie nascera, mas há cinco anos eu acordava neste dia e dava de cara com a minha princesinha. Há cinco anos eu era acordado pelo sorriso dela - no primeiro ano um sorriso banguela, mas nos outros o seu sorriso era repleto de dentinhos quadrados -, e eu podia afirmar que não havia melhor presente de dia dos pais do que o sorriso da minha filha.
Nós saímos de casa cerca de uma hora e meia depois, isso porque ainda tínhamos que ligar para os Estados Unidos a fim de desejar “Feliz dia dos pais” para o pai de Kristen.
Hollie estava animada no banco de trás do carro, ela não via a hora de entregar o presente do vovô Pattinson, mas depois de chegarmos e cumprimentarmos o meu pai, Hollie ficou tristinha por Eve não estar lá.
Assim como eu e Kristen, Victoria e Greg alternavam os almoços de dia dos pais, passado um ano com os pais de Greg e o outro com os meus pais.
Eu imaginei que, por Hollie e Eve terem uma diferença de idade de cinco anos, elas não seriam tão amigas como se tivessem a mesma idade, no entanto ambas adoravam a companhia uma da outra.
O almoço de dia dos pais seguiu com todos os paparicos destinados a Hollie, e enquanto comíamos, conversávamos e ríamos, eu via a importância de tudo aquilo. Nós – ingleses - não costumávamos nos reunir no dia dos pais, mas não havia nada melhor do que estar junto das pessoas que amamos em dias tão especiais e significativos.
Mas, pelo jeito, algumas pessoas ainda não davam importância à celebração, pois quando chegou a hora de voltarmos para casa, demos de cara com alguns fotógrafos inconvenientes, que nem mesmo em datas como esta nos davam sossego.
Kristen já se preparava para colocar Hollie no colo e correr para o carro o mais rápido que pudesse, mas eu a impedi e saí para o agradável começo de noite que fazia em Londres.
Os paparazzi estavam em pé logo após o cercado de grama que havia sobre o muro baixo da casa dos meus pais. Eu me aproximei deles e fui atingido por alguns flashes.
- Boa noite. – os cumprimentei sem nenhuma cortesia na voz.
Nenhum deles devolveu o cumprimento.
- Eu sei que este é o trabalho de vocês, e sinto muito por vocês não terem folga nem no dia dos pais – disse sarcasticamente. –, mas há uma garotinha de cinco anos lá dentro. Ela é apenas uma criança que, como qualquer outra, se assusta ao ver um monte de homens disparando flashes sobre o rostinho dela.
“Vocês sabem muito bem que eu posso tampar o rosto dela e sair o mais rápido possível daqui, assim como vocês podem respeitar a nossa privacidade ao menos nos dia dos pais e permitir que saiamos da casa dos meus pais como as pessoas normais que somos.”
Mais uma vez nenhum deles tinha algo a argumentar.
- E então? Eu posso voltar lá para dentro e sair com a minha filha sem que ela precise se encolher no meu colo?
Silêncio.
Eu decidi acreditar que aquilo era um sim. Lhes lancei um último olhar nada amigável e entrei na casa dos meus pais.
Odiava ter que ser rude com as pessoas, mas os paparazzi eram abusados demais, se bobear eles seriam capazes de gritar “Hollie olhe para direita, olhe para a esquerda” assim como eles faziam quando nós passávamos em tapetes vermelhos. E se a minha princesinha não lhes lançasse um sorriso, no outro dia diversas revistas estariam dizendo que ela era mal educada, e que, assim como a mãe, nunca sorria.
O que eles não sabiam era que elas eram as criaturas mais adoráveis que alguém poderia ter na vida, e elas sorriam sim. Os sorrisos mais lindos que já vi, e que eram todinhos meus.
- Eu vou ter que esconder o rosto, papai? – Hollie perguntou quando eu a peguei do colo de Kristen.
- Não, princesa. – afaguei-lhe o rosto.
- O que você disse para eles? – foi a vez de Kristen perguntar.
- Pedi para que nos respeitassem pelo menos hoje.
Eu saí da casa dos meus pais com Hollie ainda em meu colo. Ela segurava o seu urso predileto bem rente ao corpo, como se estivesse o protegendo, assim como eu fazia com ela. Kristen estava logo atrás de nós; tinha certeza que ela estava de cabeça baixa, e só não corria porque eu e Hollie estávamos à sua frente.
Nós passamos pelos fotógrafos sem que nenhum deles nos apontasse sua câmera, Hollie estava com a cabeça no meu ombro e ela até levantou a cabecinha ao perceber a ausência de luz.
Depois de colocá-la na cadeirinha no banco de trás eu voltei até os paparazzi para agradecer por eles terem acatado ao meu pedido. Por mais que odiasse todo aquele assédio e falta de respeito, eu sabia que este era o trabalho deles, assim como o meu era atuar.
A nossa casa não ficava muito longe da casa dos meus pais, mas ainda assim quando chegamos Hollie estava adormecida no banco traseiro.
Desta vez fora Kristen quem pegou a pequena, enquanto eu as seguia segurando bolsas e ursos de pelúcia.
Assim que entramos no apartamento, Kristen levou Hollie para o banheiro, provavelmente para banhá-la antes que ela realmente dormisse. Eu decidi fazer o mesmo, e entrei no quarto já tirando as roupas.
Quando sai do banho, Kristen entrava no quarto enrolada em uma toalha.
- O que houve? – perguntei.
- A Hollie estava mais dormindo do que acordada, estava difícil dar banho nela, então o jeito foi tomar banho com ela. – explicou rindo.
Kristen pegou uma roupa e entrou no banheiro para se trocar. Eu estranhei o seu ato, afinal desde quando precisávamos nos ocultar no banheiro para trocar de roupa?
Espantei as perguntas idiotas que minha mente começava a formular e fui até a cozinha beber um copo de água, aproveitando para passar no quarto de Hollie e conferir se ela estava em um sono tranqüilo.
Ao retornar ao quarto me deparei com Kristen já deitada sobre a cama.
Ainda era cedo, não devia passar das sete e meia da noite, e nós não costumávamos dormir tão cedo. Não quando ambos estávamos de folga.
- Você está bem? – perguntei quando ela levantou o edredom para que eu me juntasse a ela.
- Sim, por quê?
- Nada.
Me deitei de barriga pra cima e Kristen logo aconchegou o seu corpo junto ao meu, pousando a cabeça em meu peito.
- Por que você demorou tanto?
- Eu demorei? – ela assentiu. – Eu passei no quarto da Hollie para ver se estava tudo bem. Aquela menina dorme feito uma pedra. – sorri.
- Ela parece alguém que eu conheço.
- Jura?
- Aham. Eu merecia um presente por todas as vezes que consegui acordá-los na terceira tentativa.
- No dia que você conseguir nos acordar na primeira, com toda certeza nós te daremos um presente.
- Falando em presente...
Kristen se mexeu na cama, apoiando uma de suas mãos em meu peito, para que seu tronco se levantasse e seus olhos encarassem os meus.
- Eu já posso te dar o seu presente de dia dos pais?
- Pensei que vocês já tivessem me dado o violão. – franzi o cenho.
- A Hollie te deu o violão.
- E você vai me dar outro presente? – ela assentiu com um sorriso. – Ora, mas eu não sou o seu pai.
- Você é tão bobo, Robert. Tão bobo...
Ela deu fim a nossa conversa selando os nossos lábios. Era um beijo calmo, sem segundas intenções, e quando nossas línguas se desenroscaram, nós continuamos nos dando beijos estalados.
- Este era o meu presente? – perguntei beijando o seu pescoço.
- Não.
Kristen se afastou um pouco de mim, e eu estava prestes a reclamar, mas logo o seu corpo estava grudado no meu novamente, só que desta vez uma de nossas mãos estava entre os nossos corpos, a minha em sua barrida e a dela em cima da minha.
- Este é o seu presente. – eu afastei os nossos rostos sem entender. - Agora só falta um. – sussurrou encarando os meus olhos.
- Isso é... Você está falando sério?
A minha mão permanecia no seu ventre, o meu rosto estava afastado do seu, e tinha certeza que a minha expressão era a de uma pessoa extremamente surpresa.
- Mas é claro que sim. – ela riu.
- Você está grávida?... De novo? – ela assentiu com um lindo sorriso.
Agora tudo parecia fazer sentido... O fato de ela não querer dividir o banho comigo nos últimos dias; ela ter preferido se trocar no banheiro agora há pouco; os cafés da manhã sem o café propriamente dito... As manhãs que eu a encontrei no banheiro do corredor...
- Desde quando você sabe? – perguntei puxando-a de volta para o meu peito.
Eu tentava parecer calmo, mas na verdade eu me sentia borbulhante de alegria... Aquela era uma emoção inexplicável.
- Alguns dias.
- Será que um dia você vai me deixar participar desta descoberta?
- Quem sabe da próxima vez...? - eu pude identificar o riso na sua voz.
- Isso pode parecer impossível, mas a cada dia eu te amo ainda mais.
- Não é impossível. – foi a minha vez de rir. – Vamos ter que levar o violão até a loja daqui a alguns meses.
- Pra quê?
- Para gravar mais um nome nele, ora.
- Verdade. – ri. – Mal posso esperar para que este dia chegue.
- Será que o seu menino vem desta vez?
- Ele será o nosso menino. – falei beijando sua cabeça.
- O nosso menino... – ela riu, mas, mais parecia um suspiro. - Eu te amo, Rob.
- Eu também.
E aquela era a mais pura verdade. Eu a amava, assim como amava a nossa princesinha. Assim como já amava o bebê que estava a caminho.
O nosso segundo, de três.
Fim*
           

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